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Não são só os "grandes", há mais heróis no Dakar 2007


Diogo Carvalho

“Quando se realizou a primeira prova de motocross em Paço dos Negros, ainda na pista velha, ele foi convidado a participar e ficou tão contente por se estar a realizar uma prova na sua região, que no final da corrida ofereceu a taça que ganhou à pessoa que construiu a pista.”

“Ele, em sénior, nunca conseguiu grandes resultados porque nunca deixou os estudos, o que lhe retirava tempo para treinar como os outros colegas, que na sua grande maioria já não estudam.”

“Queria dedicar mais esta conquista ao Diogo. Infelizmente faleceu na quinta-feira passada devido a doença prolongada. O Motocross perdeu uma jovem esperança e nós um grande amigo.”

“O Diogo não era apenas mais um piloto. Era um apaixonado pela modalidade que estava sempre a falar de motas. Era quase um fanático. Sabia os resultados todos na ponta da língua e um dos seus últimos desejos foi ser sepultado todo equipado.”

“Um dos últimos desejos do Diogo era a realização de uma prova de homenagem. Acredito que nesta altura ele se deve estar a sentir muito feliz”, disse a irmã do malogrado piloto, sem conseguir esconder a emoção. “Sentimos muito a tua falta. Espero que tenhas gostado."

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Começamos, sem rodeios, pela parte mais difícil. Tal como a vida, por vezes.
O Diogo tinha 21 anos quando faleceu, vítima de leucemia. Foi em Maio de 2005. Os testemunhos são muitos. Pessoas como ele, ao que parece... poucas.
Uma história triste, e ainda assim com tanta vida para contar. Ficam os relatos de quem o conheceu, excertos de textos retirados da Internet e das palavras sentidas de quem nos deu o alerta para este caso: o amigo Paulo Mendes (Fófó).

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Diogo Carvalho falou a O MIRANTE em 2000

Em Outubro de 2000, O MIRANTE entrevistou Diogo Carvalho, então com 16 anos. Já nessa altura o jovem piloto confessou ao nosso jornal a sua paixão pelas motos, nomeadamente pelo enduro, modalidade em que foi várias vezes campeão nacional nas classes jovens. O seu sonho era repetir a proeza e ser campeão de seniores.
Diogo recebeu a primeira mota quando tinha apenas dois anos e numa altura que ainda nem sequer sabia andar de bicicleta. Começou a correr a sério aos sete anos, na altura em provas de motocross, mas aos 11 passou para o enduro.
"Não me sinto bem se não estiver a andar de moto. É algo que já faz parte de mim", disse na altura o jovem de Almeirim ao nosso jornal, confessando ainda que o seu maior medo eram as lesões, o que no entanto não o fazia baixar os braços. "Em cada lesão fico ainda mais motivado e consciente dos problemas deste desporto", sublinhou.
A crueldade do destino fez com que partisse aos 21 anos, vítima de leucemia.


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A prova mais conhecida do todo-o-terreno mundial, o Rally Lisboa – Dakar, começou este sábado e na caravana vão duas equipas ribatejanas. José Henriques, de Almeirim, vai de moto, enquanto os elementos da Templasport, de Tomar, vão de jipe. Todos fazem a sua estreia numa prova desta dureza e a expectativa de até onde conseguem ir é grande.

É pelo espírito de aventura mas também pelos projectos sonhados a dois com o filho Diogo, entretanto falecido, que José Henrique Carvalho, de 48 anos, decidiu meter-se à aventura e participar no mítico Lisboa – Dakar. Sozinho com a sua mota e uma mala onde vão apenas artigos de higiene, roupa, meia dúzia de ferramentas e umas peças “de combate” sobressalentes, tem como grande objectivo completar pelo menos três provas em África. Alugou um pequeno espaço num camião da KTM de fábrica onde leva mais algumas peças sobressalentes. Assim tenha tempo, entre ligações, de fazer as reparações.

José Henriques, como é conhecido em Almeirim, onde é dono de um bar, esteve para participar no Dakar em 1979. Inscreveu-se numa espécie de concurso promovido pelo jornal AutoSport, mas o projecto não foi avante. Na altura era piloto de motocross e fazia também raids todo-o-terreno. Entretanto teve uma lesão grave em que esteve vários meses no hospital devido a ter fracturado tíbia e perónio e demorou cerca de um ano a recuperar e voltar a andar normalmente.

A lesão levou-o a abdicar das corridas e passou então a acompanhar o filho Diogo nas provas de motocross e enduro, tendo vencido vários campeonatos. Só que os estudos não perdoam e quando Diogo foi estudar para Lisboa e abrandou a competição, pai e filho começaram a pensar participar no Dakar. Decidiram ir a França falar com uns amigos para comprar duas motas e participarem na edição de 2006.

Só que o destino pregou uma partida e Diogo Carvalho adoeceu e faleceu pouco tempo depois (ver caixa). O sonho ficou desfeito mas José Henriques fez das fraquezas forças e decidiu manter a ideia de ir ao Dakar, com a certeza que Diogo, onde quer que esteja, irá sempre a seu lado. Nos últimos meses tem treinado na região com alguns amigos e fez duas corridas para o troféu Vintage, destinado a motos e pilotos de outros tempos, em que fez um terceiro e um primeiro lugar.

Além de ir sozinho, José Henriques, que corre com o dorsal nº 190, conhece de África apenas aquilo que viu na televisão ou que os amigos lhe contaram. “Não vou lá modificar nada. Vou ter de aprender com o deserto que está lá há milhões de anos e fazer o melhor que puder”, reconhece. Fazer o Dakar é uma aventura ao alcance de muito poucos, sobretudo sem o apoio de marcas ou apoios privados. José Henriques sabe-o e é por isso que estabeleceu como grande meta terminar no mínimo três etapas em África. “Se conseguir chegar ao meio melhor, se chegar ao fim então será uma festa como deverá calcular, mas o meu objectivo realista é acabar três etapas em África”, refere.

Quando questionamos José Henriques sobre as principais dificuldades que espera encontrar a resposta é simples: “não estou à espera de nada fácil”. Ao contrário de outros pilotos com mais apoio, que se podem dar ao luxo de descansar enquanto os mecânicos preparam os veículos para o dia seguinte, José Henriques vai ter muito pouco tempo de descanso. Depois de 10 ou 12 horas de etapa tem sempre mais 3 ou 4 horas para tratar da mota. “Vou ter de pensar que estou sozinho e saber gerir as emoções. Mesmo que sinta que posso andar mais não o deverei fazer porque tenho de poupar a mota”.

O piloto de Almeirim vai correr com uma KTM 660 R, que foi toda montada à mão para participar no Campeonato Mundial de Bajas. Não está à venda nos circuitos normais de comercialização e tem de ser encomendada na fábrica com um mínimo de 1 ano de antecedência. A mota é uma parte grande do investimento de cerca de 70 mil euros que José Henriques já gastou com esta participação no Lisboa – Dakar.

in O Mirante - edição de 10-01-2007


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Um almeirinense no Lisboa - Dakar

José Henrique Tavares Carvalho, 48 Anos. Conhecido entre nós como o Zé Henrique dono do Bar situado no Largo General Guerra. Ele esteve no Rally Lisboa-Dakar. Um sonho de criança que começou a ganhar mais força quando decidiu planear ir com o filho, Diogo. Mas a realidade que é a vida, competiu com o Diogo e infelizmente este não conseguiu vencer... O pai correu pelos dois. Desistiu por fadiga mas cumpriu o objectivo de chegar a solo africano. José Henrique há muito que tinha o sonho de participar numa competição única no mundo como é o Rally no Deserto do Dakar.

«Comecei a pensar desde 1990, mas uma lesão atrasou de certo modo esse meu objectivo e acabei mesmo por desistir de competir. Entretanto o meu filho começou a ganhar o gosto pela modalidade e começou a praticar, também com a minha ajuda, chegando a participar e a sonhar com a hipótese de um dia chegar ao Dakar, falávamos muito sobre isso.»

Só que em 2005 o Diogo Carvalho perdia a sua grande corrida, não conseguiu ganhar a prova mais importante, a vida. Diagnosticada uma doença grave, foi uma questão de tempo para que o Diogo partisse em direcção a outro caminho. «Estes últimos anos foram terríveis para a nossa família, foi uma perda enorme. Ele ainda foi ao Campeonato do Mundo em Cúrias durante seis dias e já nessa altura começamos a combinar ir ao Dakar. Na Europa já tínhamos participado em várias provas e achamos que era agora o momento ideal de arriscar um sonho antigo.»

Foi há dois anos que José e Diogo decidiram participar na competição mais apetecida, o Rally no Deserto do Dakar, uma ideia que estava a ganhar bastante força, mas o destino, esse, o da vida, estava mais que traçado. «Agora vou eu e ele, ao Lisboa Dakar, de uma outra forma é claro, mas em mente e espírito o Diogo vai participar na prova sempre mais quis e onde ambicionou chegar...»

Na preparação para a prova estão algumas emoções com fortes sentimentos à mistura, por exemplo a Moto de prova tem quase na totalidade imagens do Diogo estampadas à sua volta. «Sim, são todas fotografias dele que dão a imagem colorida e este efeito à moto. A foto que está no depósito, foi a primeira prova que ele fez e as outras são da prova em Andúr. As restantes são as que me criam um sentimento mais forte e coragem para seguir em frente por ele...» Um Pai que parte em direcção a uma aventura no Deserto em homenagem ao filho. «Acho que é mais que isso, não encontro a palavra certa. Pode ser uma homenagem, pode ser muita coisa... são misturas de emoções e vontades. Sinto que tenho de ir o mais depressa possível, e isso é de fazer enquanto se está vivo...»


Zé Henrique: "Seremos dois a conduzir a mota"

Os gastos e o pessoal para uma prova destas são em grande quantidade, mas mesmo assim a vontade e fé por vezes ultrapassa muitas barreiras. «Existem duas formas de poder ir a uma prova desta dimensão. Como eu, que sou um Motard e vou sozinho, sem mecânico, sem apoio ou assistente. Damos a volta à situação com o aluguer de um espaço que é vendido ao metro cúbico, num camião da prova que serve para levar alguns pneus, ferramentas e roupas. Em contrapartida eles fornecem compressor, máquina de soldar e outros utensílios necessários. O grande problema de não ter apoio mecânico é ter força para o dia a seguir ter a mota nas condições ideais para conti-nuar, ou seja no fim de cada prova tenho de ser eu a mudar rodas, limpar filtros e toda a manutenção para seguir em frente no dia seguinte, e depois há os outros que montam a tenda e descansam, enquanto os mecânicos durante a noite prepararam a mota para o dia seguinte. Mas vou ter que arranjar forças para conseguir...» José Henriques, garante que a inscrição é cara, mas não aí que se gasta mais na prova. «Uma assistência em prova ou o valor da própria moto é mais caro que a inscrição, mas não se pode dizer que esta é seja dispendioso. Estamos a falar do Dakar! Mas quanto às contas só no final poderei tirar as ilações e os verdadeiros números quanto aos gastos, mas não deve fugir dos 70 mil euros. Só a inscrição, sem falar no gasto com vacinas e com cartões visa para passar na Mauritânia, Mali, Senegal, Marrocos, etc, custaram 15 mil euros. Se não fosse tão dispendioso é obvio que já lá tinha ido aos 20 anos. É muito caro»

in o Almeirinense - edição de 12-01-2007


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De referir ainda que em 2001 o nosso país não estava representado nos I.S.D.E. em Brive, França, uma vez que a nossa Selecção entendeu que não estavam reunidas condições para tal.
O Diogo, ao saber disso, "mandou-se" para lá de comboio, apenas com a mota e dois amigos como assistência e uma bandeira nacional às costas, e representou, assim, Portugal durante os seis dias da prova! Durante as seis noites... dormiam em tendas. O Diogo
conquistou a simpatia de grande parte das selecções presentes, as quais o ajudaram e apoiaram durante toda a prova.

nota: Os Insólitos TX não conseguem confirmar totalmente a veracidade dos factos aqui relatados, pelo que, caso a história não esteja correctamente contada, solicitamos que nos corrija.



Resta-nos apenas deixar aqui os nossos sinceros e enormes parabéns ao Sr. Zé Henrique, que já se encontra em Portugal, e dizer-lhe que esperamos que volte a repetir o Dakar em 2008, desta vez com (ainda) mais sucesso. Se algum dia necessitar do nosso apoio, seja para o que fôr, pode não ser muito grande, mas vai tê-lo com toda a certeza.
Obrigado Fófó pela ajuda prestada.


Cumprimentos,
Luis Pita
TX Racing

Poucas são as palavras que consigo escrever num momento como este, apenas mais uma coisa a acrescentar ao artigo, a federação achou que não se reuniam as condições necessárias para lá ir, mas o Diogo com apenas 17 anos provou o contrário e conquistou medalha de Prata na referida competição.O que teria feito se tivesse tido melhores condições.
Pita obrigado por tudo.
Diogo até sempre.

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